segunda-feira, 27 de setembro de 2010

AS CONTRADIÇÕES CULTURAIS CLOROFÍLICAS

AS CONTRADIÇÕES CULTURAIS CLOROFÍLICAS

De - Adelson Santos
07/2006


Embora ainda não tenha dados científicos para provar minha tese, porém, cada vez mais me convenço de que existe na selva um elemento químico dotado de força eletromagnética que interfere no cérebro, na atitude e na ética do cidadão amazonense. É um pigmento que dá cor verde as plantas e que tem em abundância na selva: a clorofila que, por sua vez, pode ser uma clorofila do bem ou do mal.
Quanto à clorofila do bem, sua principal função é fazer a fotossíntese em presença da radiação solar, ou seja, transforma o dióxido de carbono em oxigênio. Alguns estudos científicos apontam a clorofila do bem como purificador do sangue, detergente do corpo, digestivo, revitalizador da pele e neutralizador de toxinas no organismo. É ainda eficiente no combate a caspas e evita o embranquecimento dos cabelos, previne cáries dentárias, cura problemas de garganta e infecções vaginais, e normaliza a fluidez do intestino.
Quanto à clorofila do mal, devido às conexões químicas com as regiões azuis e vermelhas do espectro eletromagnético (nada a ver com Garantido e Caprichoso), acho que, de um lado, acaba afetando o lado direito e o lado esquerdo do cérebro, ou seja, as funções lógicas e artísticas; e de outro, acaba gerando a anti-civilização selvagem que se estrutura num corpo social, político, econômico e cultural com uma originalidade primitiva radical. Anticivilização que nega os princípios do racionalismo cartesiano, as certezas da lógica positivista, e resgata o idealismo socrático e sua principal variante: o transcendentalismo cristão e suas bias ideológicas.
Por conta disso, o que se vê por aí em todas as esquinas da cidade são os sintomas da psicopatologia onde se troca o verdadeiro pelo verossímil, se prefere o simulacro ao invés do autêntico, e devido aos excessos da clorofila interferindo no cérebro, se tenta fazer da simulação e da pantomima o princípio da História e do mundo. E sendo assim, surge o batalhão dos mágicos querendo provar que podem transformar o mundo dispensando o conhecimento racional e científico; o batalhão dos místicos com seus discursos teias ludibriando a manada e os pobres de espírito que dela fazem parte, com a promessa de felicidade absoluta no futuro e, geralmente, depois da morte.
Na anticivilização selvagem movida à clorofila, em cada esquina da cidade existe um malandro à espreita de um otário. É onde proliferam, feito ervas daninhas, os gênios da “intelectualidade cascateira”, especialistas em “discursos blablablá”, contadores de histórias travestidos de cacarejadores midiáticos que vivem engrolando a multidão solitária, analfabeta e alienada; multidão feita de invisíveis caminhantes na procura do Ser ou do Nada, sempre circulando na periferia e sonhando com os lazeres do capitalismo.
E pra engrossar o caldo da anticivilização selvagem, aparecem os políticos profissionais, todos farinha do mesmo saco e vinhos da mesma pipa - com exceção dos éticos redundantes que não resolvem absolutamente nada no contexto histórico - sempre com suas retóricas cínicas e falaciosos, prometendo um futuro bem-estar material que nunca chega, enquanto fazem do presente um tempo de tramóias e sujas negociatas nos bastidores do poder para atender as suas bases, na desgastada política do “é dando que se recebe”. Enquanto isso o povão mesmo, aquele da periferia em qualquer sentido, só fica mesmo com as esmolas e migalhas do poder da hora. Em troca recebe educação de quarto mundo, tratamento de saúde pelo chão dos hospitais públicos, balde de violência jogada na cara a todo instante em qualquer esquina da cidade.
Pensando bem e falando sério, o povo só serve mesmo pra eleger político oportunista e bandido. Depois que os canalhas corruptos chegam ao poder, tenho a impressão que eles ficam falando assim pro povo: “adeus povo, até a próxima eleição bando de idiotas”.
E no meio dessa esbórnia generalizada entram alguns Juizes e Desembargadores com as suas anacrônicas poses de vestal, de homens da lei, de homens justos, conspurcando a sagrada instituição do direito e da justiça com a venda de liminares para quadrilhas de políticos, ladrões, bandidos, e traficantes de todos os matizes.
E para fechar o círculo da anticivilização movida à clorofila temos o Executivo transformando o Estado Republicano em propriedade privada para loteá-lo entre parentes e apaniguados, antigos hábitos herdados dos patriarcas de Casa Grande e Senzala e dos filhos, netos e bisnetos de D.João VI.
Com doses excessivas de clorofila do mal no cérebro, o individuo pode atingir estágios irreversíveis de falsas interpretações da realidade, ou seja, de delírios clorofílicos. Desta fase em diante, o cérebro do sujeito clorofilado pode ter alucinações psicóticas e começa a enxergar macacos zebrados, índios subindo o Rio Negro montados em jacarés, curupiras subindo em Castanheiras, mula com duas cabeças, Saci-Pererê de cor verde, botos vestidos de paletó e gravata dirigindo barcos a jato pelos rios da Amazônia. Em razão das tais alucinações psicóticas começa a sentir, de um lado, os sintomas da anorexia, da bulimia, e de outro, é atacado pela síndrome do comedor seletivo, do comedor compulsivo e do comedor noturno de farinha, feijão, carne seca e sanduíche de tucumã regado a catchup, sem esquecer da necessidade de mastigar mais de cem vezes antes de engolir qualquer alimento que põe na boca. Em surtos mais profundos começa a ver fantasmas de Wagner, Mozart, Beethoven no Teatro Amazonas em época de Festival de Ópera, ouvir Matintaperera cantar uníssono em noite de lua cheia e Orquestra Filarmônica tocar música erudita no meio da mata. Num viés histórico começa a psicografar textos enviados pelo tuxaua Ajuricaba, agora transfigurado no mestiço da vila, convocando o povo para a Jihad Clorofílica que consiste, fundamentalmente, em vender produtos para emagrecimento da Herbalife.

Atenção gente. Temos que vigiar a clorofila de perto. Eis a seguir algumas provas concretas para desconfiar da clorofila do mal:

1) Nos centros mais “civilizados” do Planeta como, Nova York, Londres, Tóquio, São Paulo, Rio de Janeiro, etc. a gente pode observar que não tem matagal nenhum para produzir clorofila.
2) Nossos índios foram todos dizimados pelos colonizadores quando aqui chegaram. Desconfio que é por que eles estavam todos envolvidos pela química e pelo eletromagnetismo da clorofila.
3) Em Hiroxima e Nagasaki, onde foram jogadas as bombas atômicas na segunda guerra mundial todas as árvores foram dizimadas. Foi a partir da segunda guerra que o Japão alcançou o status de potência econômica mundial. Será que é por falta da clorofila na área que os japoneses ficaram mais inteligentes do que sempre foram? Na verdade, em Tóquio, a capital do Japão, também não tem nenhum matagal pra gerar clorofila.
4) Acabo de descobrir um grande perigo espalhados pelos bosques da UFAM (Universidade Federal do Amazonas): é que todas as colunas de sustentação dos blocos de sala de aula são pintadas de verde. O excesso de tinta verde artificial misturada com o verde da clorofila do meio ambiente, provavelmente está interferindo na intelectualidade e criatividade dos nossos artistas. Temos que mandar pintar urgentemente tudo com a cor amarela, que é a cor que ajuda a reter conhecimentos, desenvolve a sabedoria, traz alegria, e ajuda na cura da artrite. Para músico então é ótimo porque musico vive sempre com artrite na coluna e na ponta dos dedos.
5) Um amigo meu resolveu fazer uma tese de mestrado sobre a Pedagogia de Piaget nas escolas de Manaus. Pra sua surpresa, logo nos primeiros passos da sua pesquisa de campo, ele já descobriu que em Manaus, foi o único lugar do Brasil que a metodologia piagetiana não funcionou. Segundo suas pesquisas ele está chegando à conclusão que o fracasso do método foi porque as escolas estavam cobrando muito caro pela mensalidade. É possível que isto faça sentido. Mas, por via das dúvidas, eu sugeri pra ele renovar suas pesquisas pra ver se não havia nenhuma porção da clorofila do mal interferindo na decadência piagetiana nas escolas de Manaus.
6) Manaus é uma cidade que fica localizada na frente de um dos maiores rios do mundo e até hoje, em pleno terceiro milênio, o problema da água encanada não foi resolvido. Isto é mais um grave sintoma de que a clorofila do mal está interferindo na cabeça dos gênios da nossa engenharia hidráulica.
7) O Brasil é o rei do futebol. Acho que tem mais campo de futebol nesse país do que escolas. Daí vem toda essa filosofia das chuteiras que bombardeia a cabeça do brasileiro de dia e de noite nas Rádios e TVs de todo o País. Por isso que em vez de se discutir cidadania, saúde, educação, segurança, violência, a gente fica ouvindo baboseiras sobre o gol do Ronaldo, o milésimo do Romário ou do Pelé. Entretanto, mesmo com toda essa paixão pelo futebol, em Manaus é o único estado da federação que não tem futebol profissional. Quer dizer, o futebol profissional que tem por aqui, não vale nada, não consegue se projetar no cenário nacional e não atrai público ao estádio. É só observar quando tem jogo no Vivaldão. Não aparece uma viva alma na arquibancada para torcer pelo seu time. O que será que acontece hein? Desconfio que é a grama do estádio que está exalando excessos de clorofila do mal e com isso acaba espantando os amantes do futebol amazonense dos estádios. Estranho, demasiado estranho tudo isso.


A dúvida está no ar. É bom se ligar na parada da clorofila porque todo esse pessoal que está por aí metendo a cara em programa de televisão com cacarejadas dogmáticas e pragmáticas para salvar a Amazônia, no fundo no fundo, só estão mesmo é fazendo pose de “defensores” do clima e da natureza. Não obstante, eles até podem estar mesmo querendo a mata viva, porém, desde que vivam bem longe dela. Com certeza sabem dos poderes da clorofila, principalmente da clorofila do mal.
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Adelson Santos – é Compositor, Professor de Música da UFAM, da UEA, Ex - Regente Titular da Orquestra de Violões do Amazonas, e atualmente é Regente Titular da Orquestra de Vozes da UFAM.

sábado, 18 de setembro de 2010

SOMOS TODOS CÚMPLICES


de Adelson Santos *
16/09/2010

Ser cúmplice, no pior sentido, é participar como co-autor de um delito ou de um crime. Tal conceito me leva a pensar que somos cúmplices na degeneração ética e moral que se espraia como Erva Daninha em nossa sociedade. E não adianta dá uma de bom moço, ou de bom menino filhinho da mamãe e do papai, ou de cidadão com pose de reputação ilibada e cumpridor dos seus deveres para com Deus, com a família e com a pátria. A questão é que a força centrípeta desse buraco negro atrai todos para o seu centro. E sendo assim, dá de perceber que ninguém escapa de sua atração fatal e do seu horizonte de eventos. Senão vejamos, por exemplo:
Somos cúmplices quando, pela manhã, pela tarde ou a qualquer outra hora do dia, puxamos a descarga do vaso sanitário de nossas casas. Fatalmente, pela inércia de movimento e força da gravidade, todos os cocôs seguem rumo aos esgotos ou igarapés poluídos que vão desembocar nas margens do Rio Negro em frente à cidade. Pelas estatísticas dos fofoqueiros militantes, sabe-se que pelo menos dois milhões de toneladas de cocô por hora são despejados nas águas. Eu acho que é cocô demais para um rio já tão saturado de receber merda em suas margens todos os dias.
Somos cúmplices quando fechamos os olhos para os camelôs que invadiram o centro da cidade com bancas de tudo quanto é bugigangas em detrimento do espaço do pedestre, da negação da beleza da cidade e do conforto do cidadão.
Somos cúmplices quando vivemos na base do “farinha pouca meu pirão primeiro”, ou seja, se eu estou bem com o meu umbigo, com os vizinhos, com a família, com Deus, o resto que se lixe, ou seja, dane-se o mundo que meu nome não é Raimundo.
Somos cúmplices quando nada fazemos para acabar com os desmatamentos da floresta amazônica que só serve aos interesses do capitalismo selvagem e dos capitalistas insanos.
Somos cúmplices quando fingimos não ver nossas crianças e jovens fumando crack e cheirando cola pelas ruas e praças da cidade.
Somos cúmplices quando silenciamos diante dos flanelinhas que nos extorquem com seus redundantes pregões: “pode deixar que eu tomo de conta patrão”.
Somos cúmplices quando abarrotamos as ruas da cidade com nossos carros que engarrafam no trânsito e consomem gasolina inutilmente além de contribuir para poluir a cidade e o meio ambiente. Não seria mais lógico se deixássemos nossos carros na garagem e fôssemos trabalhar usando o transporte de massa? Mas cadê o transporte de massa? Ouvi dizer que governo e indústria não se interessam por isso. Dá mais lucro vender carro do que construir transporte de massa. Interessante! É isso aí.
Somos cúmplices por tudo o que até aqui foi dito. E tem mais a ser dito. Vejamos:
Somos todos cúmplices quando ficamos calados diante de uma educação pública de terceiro mundo, irresponsável e inconseqüente, feita para os alienados do presente e futuros excluídos de nossa pátria mãe senil. Depois não venham chorar nos meus ombros por causa de bala perdida, assaltos a mão armada, roubo seguido de morte.
Somos cúmplices quando silenciamos diante das pessoas que morrem na porta dos hospitais por falta de leito, de médicos, enfim, de tudo.
Somos cúmplices quando nada fazemos diante de uma justiça inoperante feita para ricos, de um congresso corrupto que só legisla em causa própria, de um executivo que se encantou com o poder e, se vacilar, vai acabar virando santo com direito a uma estátua lá em Juazeiro do Norte bem ao lado do Padim Ciço, erigida pela confraria dos apaniguados, corruptos militantes, companheiros sindicalistas, e pobres de todo o Brasil. Sim meus caros companheiros de cumplicidade.
Somos todos cúmplices quando silenciamos diante da instalação de corujinhas pela cidade em nome da “defesa da vida”, entretanto, sabemos que o grande intuito por trás disso é, mais uma vez, roubar dinheiro do povo. Ao invés de corujinhas, por que não passarelas desmontáveis?
Somos todos cúmplices quando permitimos que os políticos corruptos ajam impunemente roubando o dinheiro do povo para aliciar mensaleiros, construir castelos, comprar mansões em beira de praia e carrões milionários.
Somos cúmplices quando incentivamos a cultura dos heróis de chuteiras, todos bilionários, enquanto o pessoal de baixo cada vez mais pobre sem um mínimo de dignidade humana só esperando a morte chegar para ser feliz na outra vida ao lado de Jesus no reino dos céus. Nessa eu não entro. Nessa eu não embarco. Vida como essa que tenho só existe aqui e agora. O que sei do futuro é que “és pó e ao pó voltarás”. Pelo menos é o que está escrito nas páginas de um antigo livro rotulado de “sagrado”.



* Adelson Santos é formado em Letras, Maestro, Compositor e Professor de música da UFAM.


Outras leituras no blog: www.adelsonsantos.blogspot.com

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ALIENADOS PELA RELIGIÃO

O cristianismo, por um processo de lavagem cerebral, introjetou de tal forma o conceito de pecado no inconsciente das pessoas que acabou alienando-as dos seus direitos, desejos e esperanças mais fundamentais como a posse da dignidade moral, material e existencial. O resultado disso é que a montanha de coisas erradas que estão escancaradas nas esferas sociais, políticas e econômicas de nossa sociedade são vistas como coisas normais, como se a vida tivesse que ser assim mesmo. No frigir dos ovos, como se todos estivessem induzidos por uma cegueira geral, acabamos achando que tudo está como Deus quer. E assim a padrecada formulou nas origens do cristianismo a teoria do pecado para que tudo permaneça como está e todos se mantenham alienados e conformados com o mito de que na “outra vida” tudo vai mudar e todos serão felizes para sempre, se possível, sentados à direita do Deus Pai. E quem tentar se arvorar a ser diferente e querer mudar alguma coisa do que está feito, estará cometendo um sacrilégio, de acordo com a ideologia do pecado. E por conta disso ficará sujeito a sofrer as penas impostas no fogo do inferno por toda a eternidade. Tudo lambança. Tudo conversa fiada pra enganar otário. Vade retrum, satanás!