quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

BUSCANDO A SAIDA

É feio, bonito, ou nem uma coisa nem outra, a gente viver consumindo a cultura alienígena? Os modernistas brasileiros já trataram disso à exaustão e nos legaram um roteiro completo de como fazer uso da cultura estrangeira por meio da antropofagia cultural. Afinal de contas, não somos um povo que desde as origens foi alienada de suas matrizes raciais e culturais na base da porrada, da lavagem cerebral e do trabuco? Se nossas variantes raciais marrons e pardas, se nossas caboquices e mulatices provam que já não temos mais nada a ver com tais matrizes originais, ou seja, indígenas, negras e brancas, por que então ficar com falsos pudores para experimentar outras propostas culturais no ritmo e no compasso da globalização? Isto seria alienação ou esperteza antropofágica? Acho que a segunda hipótese é mais conseqüente. Votaria nela para confirmar minhas esperanças de, algum dia, encontrar uma saída, uma resposta, um caminho, qualquer coisa que possa explicar minhas configurações éticas e morais.

ESCAPEI POR POUCO

Sou o resultado do genocídio racial e cultural imposto pelos portugueses quando se estabeleceram na floresta amazônica. Quando os invasores aqui aportaram tinham algumas razões básicas: 1) explorar as riquezas existentes na terra para manter o ócio da aristocracia portuguesa; 2) catequizar os índios para usá-los como mão de obra escrava; 3) importar escravos africanos para trabalhar na monocultura do açúcar, do café, e na mineração de ouro e pedras preciosas ali pelas bandas de Minas Gerais. E nessa histórica convivência nada pacífica de raças e culturas aconteceu o que era de se esperar: uma original miscigenação racial e cultural. A mestiçagem que se originou desse encontro de raças e culturas até hoje não disse exatamente à que veio. E se disse alguma coisa, pelo menos eu, até agora não entendi direito. Traduzindo: mestiçagem com corrupção política, políticos canalhas, pobreza em cada esquina, violência em cada beco ou em qualquer lugar, fome, pobreza, favelas, palafitas, milícias, drogas, bala perdida, parece-me que não estão nos levando pra qualquer lugar. A única coisa clara que existe nessa esbórnia nauseabundante é que o pessoal de cima, como sempre aconteceu, continua levando vantagem em tudo; e o pessoal de baixo na crença de que o sol é para todos, continua acreditando que é possível conquistar algum lugar embaixo dele. Coitado do pessoal de baixo. Vai ser ingênuo assim só lá na Serra de Manitoba.

CUIDADO COM OS FOFOQUEIROS

Calma pessoal. Vamos com calma porque a história tem outra versão. Esta que está rolando por aí de boca em boca é a história dos fofoqueiros, plantada para confundir ou para envenenar as mentes e os espíritos com inverdades e calúnias. Vai com calma pessoal. A outra história que não está sendo contada é porque não interessa ao protagonista da fofoca. O problema é que o que está sendo dito esconde a verdade e, pela lógica da verdade, não interessa ao fofoqueiro. O que interessa ao fofoqueiro é tentar provar que ele é o cara que está com a verdade e sua versão dos fatos é a única e verdadeira. Mas eu sei que não é bem assim. O outro lado da história, quer dizer, a versão verdadeira é bastante diferente e apresenta outras dimensões e novos matizes. Depois que você entender tudo isso, vai chegar à conclusão que o fofoqueiro não merece o menor respeito e nem qualquer crédito. Que bom que tenhamos chances de nos explicar para colocar os pingos nos iis. E que assim desta forma se estabeleça a verdade.

CORDIALIDADES INTERESSEIRAS

Não quero qualquer relação humana baseada em sentimentalismos baratos, em gestos de caridade cristã, em bondades ambulantes, em cordialidades interesseiras. Longe de mim tudo isso. Pra mim só vale qualquer relação humana se estiver pautada em ações sinceras, lógicas, honestas e espontâneas. Será que existe isso ou estou sendo um utopista medieval em plena pós-modernidade?

ISOLANDO OS PICARETAS

A questão fundamental do relacionamento humano é que algumas pessoas possuem um caráter duvidoso. Ora se apresentam como cordeiros, ora como lobos, ora como qualquer coisa ou ainda como porra nenhuma. Aí a melhor coisa a fazer é isolar o cara e, se possível, mantê-lo à distância.

MISERICÓRDIA PARA OS PRESUNÇOSOS

Já cruzei com todos os medíocres existentes na reino da clorofila. Neguinho que aprendeu a tocar violão um dia desses, e já se acha o maior entendedor de música do planeta. Ainda tá mijando nas calças e já quer provar que é o rei da cocada preta sonora. E vem pra cima com críticas, com propostas sem sentido, com argumentos sem qualquer convencimento pela falta de lógica. E eu, sempre com a minha eterna condescendência e paciência cristã, sou obrigado a ouvi-los pacientemente. Como estratégia de convivência pacífica, prefiro agir assim. Se a estratégia não funcionar, aí então serei obrigado a mandá-los pra puta que os pariu.

OS BABA-OVOS DA ARTE

Manaus é uma terra de pouquíssimos artistas. E eu, modéstia a parte, por conta dos meus heróicos esforços e apoio de raríssimos incentivadores da minha arte, sou um deles. O que tem de sobra aqui são pequenas igrejas e alguns medíocres negócios artísticos, ou melhor, guetos, baba-ovos, subalternos e puxa-sacos que estão sempre se curvando aos “secretários de culturas de plantão”. Eu por exemplo, de novo modéstia a parte, só me curvo para receber aplausos. Isso para mim significa muito, ou seja, significa preservar em níveis toleráveis minha reputação e minha dignidade. Isso é muito mais importante do que representar o papel de canalha ou de prostituto que se vende por qualquer mixaria.

FALSAS INTERPRETAÇÕES DA REALIDADE

Amigo! Tem um fato aí. Vou tentar te explicar: a parada é que a gente serve a todos, se doa ao máximo, é sempre prestativo, solidário e fraterno. E enquanto assim a gente age, somos considerado o melhor cara do mundo, o mais “amigão”, o mais “gente boa”, o melhor caráter da cidade, enfim, é só elogios de quem recebe o bônus. Daí, um dia, até mesmo por precisão ou necessidade, você resolve se negar e não ser o cara bonzinho de sempre. Pronto. Aí a montanha vem abaixo e a casa desaba em cima de você. Aí, na visão do outro, você não presta mais. Aí passa a ser rotulado de safado, pilantra, picareta, malandro, traíra, etc. e tal. Fazer o que? Tentando encontrar uma resposta, acho que a melhor solução nessas horas é procurar ficar na sua e deixar a poeira baixar, pelo menos enquanto os equívocos e as falsas interpretações da realidade turvam as águas cristalinas. Depois tudo volta ao normal. Ou não. Na verdade, pouco me importa pra que lado as coisas voltam. Pra mim o que importa é saber que agi ética e moralmente de acordo com minha consciência e não com a consciência alheia.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

VOSSAS EXCELÊNCIAS, TOMEM VERGONHA NA CARA

Ora V.Ex.a. De que adianta vosso profundo entendimento das leis, vossa ética, código e moral de classe judiciária, vosso senso de justiça irretocável, vossa retórica idealista, enfim, de que adianta tudo isso se vossa instituição judiciária não age e não consegue punir, entre tantos e tantos outros crimes que aqui poderiam ser citados, os crimes dos corruptos de colarinho branco? O que é melhor? Não permitir a entrada de ladrões pra dentro do congresso nacional ou deixá-los presos entre as grades de uma prisão. Eu acho que a segunda opção é a mais viável, lógica e conseqüente. Pelo menos assim poderemos impedi-los de ganhar um mandato eletivo para representar, ou melhor, para roubar o dinheiro do povo. E não me venha com discursos. Enquanto os safados buscam se esconder no cipoal das brechas da lei que lhes protegem, o povo morre na porta dos hospitais, recebe a educação dos excluídos, salário de fome no final do mês. Aí você vai me jogar na cara: “mas eles foram eleitos pelo povo”. Excelência, desde quando o povo sabe votar? O que o povo sabe e gosta de fazer é ver o circo pegar fogo, excelência.

POLÍTICOS LADRÕES E TRAMBIQUEIROS

A impressão que tenho é de total perplexidade. A sensação que fica é de angústia e medo pelo destino do povo que vota e acredita que alguma coisa vai mudar. Será? Já ouvi dizer, no "after day" da vitória de DILMA, que vão retornar com a CPMF. Mas vejam só que patifes. Nunca disseram uma vírgula sobre a CPMF na época da campanha. E agora, logo na primeira hora depois da vitória, já foi explicitado que é um bom momento para voltar com a CPMF. Patifes. Ladrões. Filhos da puta. Perplexidade é a impressão que tenho. Chega a dar náuseas.

OS ENCOLEIRADOS

A relação afetiva entre homem e mulher, ou vice-versa, são muito difusas. Pra começar estão pautadas na filosofia da coleira, ou seja, amar, equivocadamente, é o controle de um sobre o caráter, a vontade e a natureza do outro. De ambos os lados a primeira coisa que surge na relação é a vigilância absoluta em cima da frágil fidelidade dos protagonistas envolvidos no caso amoroso. Coitados. Não sabem nem tomar conta de si mesmos, imagina um tomar conta do outro. A primeira brecha que se abre na relação é a perda de liberdade auto-imposta de ambos os lados. Isto para provar que se é fiel, que ama e cuida. No meu ponto de vista, acho que botar alguém na coleira é sinal de insegurança, ineficiência e fragilidade? Pra mim, o que isto prova é a existência de dois burricos em direção contrária amarrados por uma corda no pescoço. Duas almas querendo encher seus espaços vazios com o vazio do outro.

CAINDO NA MÚSICA

Eu fui pra música. Não encontrando respostas em outras áreas profissionais, mergulhei na loucura da música num vôo cego, sem me importar se aquilo me faria conquistar a dignidade, a estabilidade financeira e a integridade profissional. Ao perceber que o meu salto no escuro em direção à música não tinha mais volta, uma onda de tranqüilidade, outra de sobressaltos, se apossou do meu espírito em pleno vôo. E fui em frente. Me deixei voar rumo ao desconhecido dos picos das grandes montanhas. Na loucura de encarar os imprevistos e as incertezas da profissão de músico, acabei fazendo uma Faculdade de música e uma pós-graduação em Educação Musical. Serviu para alguma coisa? Claro que serviu. Conhecimento não ocupa espaço no cérebro. Mas, pergunto, me fez feliz? Diria que sim e não. No frigir dos ovos a coisa pesou pro lado da dignidade, da estabilidade e da integridade. Não é exatamente como eu gostaria que fosse, porém, considerando que cada um tem a sorte que o latifúndio capitalista permite, acho que está de bom tamanho. Se melhorar, piora.

A COTA DO SAPO

Tem que haver uma cota por dia pra gente se permitir engolir sapos. Mas esta cota tem que ser limitada. Se a gente passa a maior parte do dia ou o dia todo engolindo sapos, isso significa que não estamos sabendo jogar com a malandragem. E qual seria a cota por dia pra gente se permitir engolir os sapos? Eu acho que tá de bom tamanho se, numa escala de 0 a 10, a gente deixar 3 graus para engolir os sapos de cada dia. Mais do que isso já estamos correndo o risco de perder a soberania. E, como se sabe, soberania não se negocia. Soberania se exerce.

MORENO CLARO, QUASE BRANCO

Nasci mestiço, quase branco. Pra ser mais objetivo, moreno bem claro. Pra mim que vivo num contexto de falsa “democracia racial” e numa sociedade de classes clivada hierárquicamente, acho que é uma grande vantagem ser um mestiço quase branco. É que o preconceito racial e as ideologias da classe hegemônica continuam ditando e estabelecendo as regras do jogo entre brancos, negros e índios. E nesse jogo, negros e índios estão sempre na rabeira dos fatos. Vantagem mesmo só sobra pros brancos, ou melhor, pros brancos que estão por cima da cocada preta.

POR AMOR A ARTE

Seja cego, surdo, mudo, puxa-saco, baba-ovo, prostituto ou prostituta, traíra, canalha, mercenário, tudo pelo seu “amor a arte”.

DO FILHO

Você foi saindo, como convém, devagar, bem lentamente em ritmo de adágio. Cada dia, passo a passo, foste um pouco mais longe e te afastastes um pouco mais de mim. A primeira vez que sumiste no horizonte eu me preocupei, e me perguntei: será que ele vai acertar o caminho de volta? Depois fui me acostumando com tua ausência que a princípio era de apenas algumas horas, depois passou pra dias, depois semanas. Quando dei por mim notei que tinhas aprendido a voar e estavas batendo asas por lugares longínquos e, certamente, descobrindo coisas, novos espaços, novas gentes. Foi nessa hora que percebi que estava te “perdendo”. Eu sabia que estavas vivo em algum lugar porque de vez em quando mandavas notícias. Mas a tua ausência, vou te falar. Como dói hoje saber que te perdi pro mundo. Quando me lembro que te peguei no colo, te ensinei os primeiros passos, contei histórias pra tu dormir, te ensinei a ler, te mostrei caminhos desde a tenra idade, ufa, que saudade. Quando tinhas 2 anos de idade te punha na palma da mão e te levantava bem no alto acima da minha cabeça. Todos se preocupavam achando que poderias cair. Que nada. Nunca caístes. Sempre te apóie e te segurei firme na palma da mão. Assim é a vida filho. Hoje és um homem de 25 anos de idade. Um jovem príncipe na flor da idade, bonito, elegante, equilibrado, sensato, inteligente. Às vezes pisas na bola e dás algumas mancadas. Mas, dá de compreender. Afinal de contas ninguém consegue ser absolutamente perfeito. Por sinal esse negócio de ser politicamente correto em tudo, acho que pode se tornar um grande equívoco, ou melhor, uma grande ilusão. Nada contra pessoas que querem e conseguem fazer pose de heróis ou super atletas. Ícones e mitos urbanos fazem parte da cultura da super modernidade. Mas, no fundo, eu acho que essas pessoas que vivem querendo mostrar que são felizes, perfeitos e superiores aos outros em tudo, no fundo estão tão somente querendo preencher os espaços vazios de sua existência para provar o improvável. Ainda bem que não cambastes para este lado. Ainda bem que compreendestes cedo que a vida é um jogo onde se perde ou se ganha e que, às vezes, perder ou ganhar pode ser os dois lados de uma mesma moeda. Afinal de contas não é preciso e nem necessário a gente ser um campeão ou um vencedor em qualquer aventura humana. A derrota muitas vezes é mais pedagógica do que a vitória.

DO AMOR

Eu sei que o amor é tão imenso, tão grandioso, tão envolvente, que nele cabe tudo: perdão e vingança, fidelidade e traição, medo e coragem, paciência e aflição, esperança e angústia diante do oco da vida.

METÁFORA DA CEBOLA

A toda hora desconstruo-me na esperança de encontrar a mim mesmo além das aparências. É como se, lenta e gradativamente, retirasse as camadas de uma cebola, uma por vez, para tentar chegar ao âmago de mim mesmo, lá onde os elementos atômicos se organizam e de onde tudo se origina. Sem isto, sem esta procura paciente e perseverante, tenho certeza que ficaria no meio do caminho e acabaria por não quitar minhas dívidas com o significado da vida.

ORAÇÃO DA COMILANÇA

Um pastor rezando diante de uma provável ceia natalina.
Em nome dos evangélicos: obrigado pai. Obrigado por tudo o que nos tem proporcionado no dia-a-dia e pela vida afora. Pai. Agora queremos agradecer por esta ceia maravilhosa que está posta à mesa.
Em nome dos judeus: senhor, antes de deliciar-me com esta ceia, fazei com que este ano junte mais dinheiro para dividir com minha esposa, educar bem os meus filhos, e comprar o meu whisky.
Em nome de Alá: senhor, diante do pão que está na mesa, nos te agradecemos por tudo e esperamos derrubar uma nova torre no ano de 2011.
Em nome dos cristãos: senhor vamos servir logo a porra dessa ceia porque já está ficando azeda de tantas horas que está posta na mesa.

ATENÇÃO PARA OS AVISOS

Não se aproxime demais de mim porque sou muito arisco. Não encoste em meu corpo porque dou choque. Não me pergunte sobre qualquer coisa porque ainda não encontrei a resposta certa pra nada diante dos fatos e das coisas. Não inventes mitos a meu respeito pra tentar compreender e explicar minhas ações, gestos e pensamentos. Não perca tempo fazendo fuxicos e fofocas com o meu nome na intenção de manchar minha reputação porque minha reputação é ilibada e foi conquistada com muita malandragem, inteligência, emoção, coragem, perseverança e fé. Não me procure para encher os teus vazios existenciais porque de vazio, desconfio seriamente que eu sou um prato cheio. Eu sei que, no fundo, queres apenas mostrar que estás vivo e que precisas afirmar o teu ente e a tua história em alguma conexão com a vida. Se puder, na medida do possível e das minhas forças, te ajudarei nessa jornada. Mas, por favor, não me superestime e nem crie falsas expectativas a meu respeito porque sou muito limitado e não uso placebos para suscitar milagres.