terça-feira, 28 de dezembro de 2010

DO FILHO

Você foi saindo, como convém, devagar, bem lentamente em ritmo de adágio. Cada dia, passo a passo, foste um pouco mais longe e te afastastes um pouco mais de mim. A primeira vez que sumiste no horizonte eu me preocupei, e me perguntei: será que ele vai acertar o caminho de volta? Depois fui me acostumando com tua ausência que a princípio era de apenas algumas horas, depois passou pra dias, depois semanas. Quando dei por mim notei que tinhas aprendido a voar e estavas batendo asas por lugares longínquos e, certamente, descobrindo coisas, novos espaços, novas gentes. Foi nessa hora que percebi que estava te “perdendo”. Eu sabia que estavas vivo em algum lugar porque de vez em quando mandavas notícias. Mas a tua ausência, vou te falar. Como dói hoje saber que te perdi pro mundo. Quando me lembro que te peguei no colo, te ensinei os primeiros passos, contei histórias pra tu dormir, te ensinei a ler, te mostrei caminhos desde a tenra idade, ufa, que saudade. Quando tinhas 2 anos de idade te punha na palma da mão e te levantava bem no alto acima da minha cabeça. Todos se preocupavam achando que poderias cair. Que nada. Nunca caístes. Sempre te apóie e te segurei firme na palma da mão. Assim é a vida filho. Hoje és um homem de 25 anos de idade. Um jovem príncipe na flor da idade, bonito, elegante, equilibrado, sensato, inteligente. Às vezes pisas na bola e dás algumas mancadas. Mas, dá de compreender. Afinal de contas ninguém consegue ser absolutamente perfeito. Por sinal esse negócio de ser politicamente correto em tudo, acho que pode se tornar um grande equívoco, ou melhor, uma grande ilusão. Nada contra pessoas que querem e conseguem fazer pose de heróis ou super atletas. Ícones e mitos urbanos fazem parte da cultura da super modernidade. Mas, no fundo, eu acho que essas pessoas que vivem querendo mostrar que são felizes, perfeitos e superiores aos outros em tudo, no fundo estão tão somente querendo preencher os espaços vazios de sua existência para provar o improvável. Ainda bem que não cambastes para este lado. Ainda bem que compreendestes cedo que a vida é um jogo onde se perde ou se ganha e que, às vezes, perder ou ganhar pode ser os dois lados de uma mesma moeda. Afinal de contas não é preciso e nem necessário a gente ser um campeão ou um vencedor em qualquer aventura humana. A derrota muitas vezes é mais pedagógica do que a vitória.

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