MODERNIDADE LÍQUIDA
de Adelson Santos – 10/2008
Sou um ator sem papel
Um artista sem público
Um equilibrista atravessando o abismo na corda bamba
sem poder tremer e nem olhar para trás
Um humano vivendo num mundo cada vez mais desumano
atemorizado pela presença de homens-bombas
Vivo numa oficina mecânica
onde não passo de uma peça sobressalente
que pode ser trocada e jogada no lixo a qualquer instante
Vivo puxando a mim mesmo pelos próprios cabelos
para me livrar da solidão dos plásticos, das imagens digitalizadas dos lap-tops
do incômodo toque dos celulares
da poluição visual dos out-doors induzindo-me ao consumo
da poluição sonora dos carros
engarrafados pelas ruas em cada esquina da cidade
Sou movido a consumo
Para alcançar meu lugar ao sol
sou capaz de passar por cima da própria mãe
para conquistar a rapidez, o excesso e o desperdício
No tempo e no espaço em que sou obrigado a viver
as vezes esqueço que sou gente e que tenho uma alma
Desconfio que virei um bicho do mato
sempre brigando e competindo com meus semelhantes
tudo para garantir o conforto do meu umbigo
e a segurança atrás das grades do meu antigo lar
Que chato tudo isso!
Acho que tornei-me um náufrago em inércia de movimento
e um prisioneiro da modernidade líquida
onde tudo o que é sólido se desmancha no ar
domingo, 28 de dezembro de 2008
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