domingo, 19 de julho de 2009

ALÉM DO QUADRADO

de Adelson Santos *
07/2009

Sim. E daí? Depois que você sacou a ética da malandragem inventada pelos de cima para dominar os de baixo. Depois que ultrapassou o limite dos preconceitos inventados pela moral religiosa. Depois que cansou de olhar o mundo pelo olhar do outro. Depois que ficou horrorizado com o genocídio físico e moral inventado pelos totalitarismos de esquerda ou de direita. Depois que descobriu que os regimes econômicos e políticos, seja democrático ou socialista, até hoje não resolveram os problemas do homem e nem da sociedade. Enfim, depois que encarou os olhares preconceituosos da vizinhança, que se desvencilhou de todas as amarras civilizatórias, que desconstruiu à marteladas, socos e pontapés, o quadrado que tentaram colocar você para fazer parte da manada. Depois de tudo isso o quê fazer então? O que fazer quando você lança um olhar inteligente para dentro de você mesmo e descobre que fora das coleiras e amarras civilizatórias você se transforma num super-homem que vive no vazio, na angústia e na solidão? Tem liberdade mas não sabe o que fazer com ela. Tem poder mas não compreende o sentido do poder. E daí? Diante de tanta inutilidade existencial, será que vai querer voltar para o seu mundinho de antigamente ou será que você espera construir um novo mundo de certezas, esperanças e tranqüilidades. Sei não. Pelo andar da carruagem, pelo ritmo da dança, tudo indica que você não vai chegar em qualquer lugar fora das coleiras e das amarras civilizatórias. A gente sabe que a resposta não está no consumo, no desperdício, no luxo, no carro do ano, na viagem de férias, no aparente sucesso familiar, no bom emprego, na maracutaia e na malandragem. Acho que fora do quadrado em que cada um se insere, só existe o vazio, o oco, o tempo e o espaço infinito. Acho que não estamos preparados para viver com tais conceitos. Nossos intelectos e sentimentos se perdem diante do absoluto. Somos talhados para viver nos universos relativos e obsolescentes da manada ambulante. É a lei. É a regra primordial da vida. A cultura e os seus diversos padrões culturais são os mecanismos da civilização, os ganchos inventados para que possamos seguir a viagem e chegar sei lá onde, talvez, no fundo da mãe terra ou na superfície de outro planeta. Quem sabe se por lá, num outro planeta, o homem cria juízo. Acho que seria mais lógico se a civilização investisse toda a grana dos arsenais atômicos e das armas de guerra na melhoria e no bem estar das pessoas e das sociedades. O problema é que a civilização não é lógica; a civilização é quântica. E tudo segue assim na base dos acasos, vicissitudes e aleatoriedades. E sendo assim, com uma atitude e um olhar inteligente pra dentro de nós, a opção que nos sobra é celebrar a vida enquanto temos vida. Então viva a perseverança do homem que teima em descobrir a saída simplesmente porque ele sabe que a saída existe. Para quem saiu das sombras das cavernas mal iluminadas e hoje viaja pelas fronteiras do espaço sideral, acho que já estamos no lucro. O resto fica por conta... sei lá por conta de quê fica essa porra-louquice toda.

* Adelson Santos é formado em Letras, Maestro, Compositor e Professor de música da UFAM.


Outras leituras no blog: www.adelsonsantos.blogspot.com

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